quarta-feira, 28 de abril de 2010

Uiquipédia do Segismundo

Segismundo Siqueira, poeta involuntário, é um velho caquético e amigo que cospe versos à guisa de imprecações e gracejos. Se você o encontrar na curva do caminho, esteja pronto, que dele pode vir tanto um soneto com rimas pobres sobre a palavra amor quanto uma maldição ciganesca organizada sobre monossílabo bem menos nobre. É o seu cartão de apresentação - digo, dele. Porque depois de feitas as honras, é que se conhece a inteireza da alma deste sexagenário que já nasceu em rugas e fraudões de doente terminal.

Vive refugiado na serra do Bico do Papagaio, em acarienses terras provinciais do Seridó, nosso herói reabilitado pela franqueza dos tais versos. De lá, frequentemente me envia pacotes de cartas e papéis coalhados de previsões, idéias persecutórias e versos de apocalípticas feições gráficas. Até agora, tenho guardado tais manifestos, inseguro sobre o caráter preparatório de nos outros para recebê-los no lar de nossas mentes confusas. Daqui por diante, chutarei o pau das barracas do consenso, e darei de publicá-los: a responsabilidade leitora é toda sua; portanto, esteja em dia com as possibilidades dos vastos pensamentos.

Enquanto lá, no Bico, Segismundo intitula-se exilado, embora a palavra não se empregue bem no contexto. É que não se concebe exílio na terra em que se nasceu e cresceu, a não ser que tal condição advenha menos da vivência do que da consciência - e este deve ser o caso de Segismundo, por sinal contraparente de Odicélio Gineceu. Fato é que o poeta caquético muitas vezes rima sem querer mesmo ao reclamar de um copo que lhe cai das mãos. E vive, quando quase feliz, na ilusão de que é um Neruda em ilha italiana, enquanto lá embaixo, nos paralelepípedos do Caicó ou nas cercanias dos Currais, a realidade não faz jus à sua presença. No máximo, às suas letras, que ele envia para seleto grupo do qual este escrevinhador faz parte, sem saber bem exatamente por quê.

De sua vida também pouco se sabe, além de que foi soldado contra a intentona nos casarões de 35, antes de ter entendimento para decifrar a natureza de tal conflito. Ou de que já ensinou taboadas até o ponto em que lhe partiu a paciência a pressa dos infantes alunos. Ou ainda de que, jovem, decepcionou-se com tudo assim de repente numa manhã de abril, quanto a beleza do céu contrariava as desgraças do mundo. Recolheu-se - e gostou. Oráculo atormentado às vezes, outras monge das secas que doem mas apascentam, de lá nos olha, triste mas compreensivo, conforme a distribuição das nuvens no céu. Seus poemas são sua graça, e ler de suas palavras é contemplar o mistério das chuvas invisíveis aos olhos de quem está preso ao chão.

Versos finais

Das multidões veio a gana esfarelada em taças de pó de desperdício
Do horizonte pululado pela massa veio um vapor de desumanidade
Da sina feita de caminhões em tropel veio a poeira nata
Do rugir da massa veio um tato cego de poço liso
Do grupo a vigir na esquina veio a ordem
Da vizinhança veio a força do cochicho
Daqui de casa vim eu mesmo, espanto
Do seu olhar veio o anúncio, seco
Do que ficou, foi este branco
De tudo, um nada e o
mó do por enquanto

Do ancião e poeta Segismundo Siqueira, habitante refugiado na serra do Bico do Papagaio, província acariense do Seridó.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Caicó arcaico


Hoje, coisa de uma e tanto da tarde, trafegando na avenida Hélio Prates, em Taguatinga, Distrito Federal, lembrei-me de Caicó. É que, junto com o vento na janela do carro, veio um cheiro forte e saboroso de torrefação de café, a madeleine particular que guardo dos tempos em que, menino, ia a Caicó na carroceria das caminhonetes que meu pai fretava para levar frutas e verduras que vendia numa das feiras da cidade.

Junto com o cheiro de café torrado, inesperado e embriagador, veio a memória de todo um tempo desenhado pelos meus olhos de criança. É um Caicó arcaico como diz a música de Chico César. Um Caicó que aos meus olhos pequenos parecia muito maior, a metrópole possível para minhas pernas curtas que não alcançavam mais do que os limites rodoviários do velho Seridó. Mas que belo Caicó era aquele.

O Caicó da visão marginal da linha d'água do Itans na beira da estrada. O Caicó de carnavais barrocos, com caminhões tomados por foliões em blocos mil na avenida Coronel Martiniano. O Caicó da Rádio Rural, de uma distante e deslumbrante sessão de cinema que exibiu em tela gigantesca e em cores desenhos da Pantera Cor de Rosa. O Caicó das óticas onde experimentei meus primeiros óculos. O Caicó para onde minha mãe ia de tempos em tempos, provocando grandes sofrimentos na minha pequena pessoa, para fazer suas cirurgias. O Caicó cujas estradas, à noite, evocavam um pelotão rebelde que a qualquer momento poderia reaparecer ao luar misterioso. O Caicó de crimes espetaculares, de tiros premeditados que tiravam a vida de algum doutor à saída de um baile de carnaval. Caicó de papelarias com artigos variados que meus olhos cobiçavam, e onde se podia comprar, dinheiro havendo, mais de um livro da série Vagalume. Caicó do meu tio ex-combatente e suas noites diante da tevê que exibia em branco e preto velhos filmes de guerra.

Tudo isso tomou conta do ar já meio rarefeito de Taguatinga nesta época do ano quando o cheiro de café torrado entrou festejando pelas minhas narinas. Um belo presente proustiano que ganhei no meio de um compromisso do dia-a-dia, sem preço calculável, como diz o anúncio daquele cartão de crédito.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Para tropeçar na grande arte


Vocês me perdoem mas preciso dizer uma obviedade daquelas: é incrível a capacidade que o ser humano tem de fazer arte, aquela com A maiúsculo, acima de qualquer questionamento, que quando lhe atinge é como um direto no estômago que faz o sujeito urrar de espanto e deslumbramento inesperado. O motor desse comentário banal é uma cena de minissérie de tevê a que assisti estes dias. Estou vendo, com o atraso regulamentar, a caixa de DVDs com a minissérie "Hoje é dia de Maria", dirigida com o maneirismo de sempre por Luiz Fernando Carvalho. O diretor, como faz muito tevê, é bem conhecido em seu estilo pródigo de imaginação, barroquismos e transcendências - no que é muito corajoso, porque a tal linguagem de televisão constuma rejeitar tais rendilhados. No cinema, o homem fez o chão sacudir com sua recriação da "Lavoura Arcaica" - e tudo o mais que eu disser sobre ele, inclusive a invenção daquela Fernanda Montenegro de "Jacutinga" na novela "Renascer", será desnecessário.

O necessário agora é dizer de uma cena - apenas uma e "escassa" cena, como gostava de dizer Nelson Rodrigues - suficiente para colocar a minissérie num pedestal de onde deveríamos todos reverenciá-la, apesar do caráter meio sombrio que lhe percorre os episódios, como nota Rejane quando passa pela sala enquanto eu me encontro submerso nas metáforas líricas de Luiz Fernando. A cena mostra o esplendor de representação de um único entre os vastos grandes atores da minissérie: é Osmar Prado, no momento em que representa tanto o pai de Maria, um completo despossuído de matéria e alma, alimentado por migalhas de esperança ressecada, quanto a figura de sua própria morte. Osmar Prado é os dois: em um, é o resto de umidade do que sobrou do veio de vida que habitou uma pessoa agora à morte; em outro, é a própria morte, de cara limpa, palavras claras, expressão grave e empatia tão inevitável quanto assustadora, a anunciar ao outro que a hora chegou. É um assombro a cena - e não é nada de mais: apenas um ator dando vida não apenas a dois personagens, mas a uma realidade da qual se diz de boca cheia que dela ninguém escapa, como se fosse apenas isso. Osmar Prado, o ator exposto em nervos de anatomia humana, mostra que não é só isso - e o faz em uma mera cena de seriado de tevê. A morte ganha um outro estatuto nas mãos do profissional da arte.

Assistindo à cena, pensei na capacidade de suspensão que a arte - no caso, o desempenho de um ator, com o auxílio da luz de um iluminador e a condução de um diretor, movidos pelo texto de um autor - pode proporcionar. Por um momento que dura dez ou quinze minutos, o espectador se distancia dele mesmo, coloca-se aquém e além da realidade comezinha da vida, instala-se em algum lugar acima da mente e da alma de onde pode, extasiado, refletir sobre o que é, onde está e por que. Vendo Osmar Prado representar o morto e a morte, lembrei de uma antiga peça em monólogo feita por uma atriz portuguesa no tão amado TAM, o Teatro Alberto Maranhão, em Natal, em ano distante. Lá, no fundo da sala teatral envolvida toda em sombras, havia o vestígio de um barco que fazia da superfície do palco a linha d'água surreal de algum rio. E no corpo dessa canoa cenográfica, iluminada apenas por uma vela de afogado, estava a presença da atriz, bela e imensa em sua expressão a se projetar até a derradeira fila, com a força que a representação confere ao pobre ser humano. Titina estava com a gente e disse, anos depois, que aquela cena e aquela peça a fizeram se decidir por perseguir a profissão de ser atriz.

Pois é: anos depois, Titina e Quitéria, nas brumas urbanas de "Pobres de Marré" traziam de volta, sob o facho de postes cenográficos, aquela mesmíssima atmosfera. O lume desta magia que a arte consegue construir, de uma cena em que o mínimo movimento, no escuro do palco, retira alguma coisa muito grande do lugar, remove em milímetros incalculáveis as estruturas de nossa percepção sobre o que somos e pra que diabos estamos aqui, nesta cadeira numerada ou diante deste computador. Uma sensação que nos assalta quando diante de outras formas de arte, algumas vezes juntando várias delas no mesmo momento revelador. Como numa cena do filme "Era uma vez na América", do italiano Sergio Leone, em que uma menina com rosto de anjo sapeca dança em roupas de bailarina entre sacos e caixas de um armazém de secos e molhados, enquanto é observada por um menino que lhe cobiça o corpo e a alma.

Grande arte esta, que está por aí e, de vez em quando, para nosso deleite e nossa glória, surge para nos fazer tropeçar no banal da vida e lembrar que nem tudo são contas, metas e compromissos.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Tocar tudo (2)


Há momentos em que uma ilha de edição pode ser um negócio maçante como contar carneirinhos pra combater a insônia. Quando o editor de imagens começa a "ajustar" um pedacinho de áudio de uma reportagem em que estamos trabalhando, e a ilha digital começa a repetir um mesmo trecho, como se o equipamento estivesse com soluço, é uma tortura. Por isso, sempre que entro numa ilha levo comigo um livro, um jornal, uma revista - alguma distração para ocupar a mente enquanto o editor de imagens batuca nos teclados ou, como acontece agora, com a digitalização, pilota o mouse. Esta semana, trabalhando incansavelmente num video sobre a viúva de Israel Pinheiro, o cara que administrou no canteiro de obras a construção de Brasília (sim, com a comemoração dos 50 anos da cidade, preparou-se muito material sobre o assunto), passei de novo por isso.

Cansado de ler este best-seller sobre a história da humanidade em que estou empacado há semanas (o livro é bom, estou empacado por outros motivos), resolvi ligar o som do celular, usando os fones de ouvido como refúgio contra um daqueles indefectíveis "ajustes de áudio". O som vazou um pouquinho, era Caetano cantando "Trilhos Urbanos" naquele disquinho acústico do início dos anos 90 (aquele onde ele canta, divinamente, "Get Out of Town" e cuja capa ilustra a postagem) e Wagner, o editor de imagens, lascou a pergunta: - Gosta de MPB, Tião? Murmurei o meu "yes, man" habitual nessas horas, pensando, com os pitocos do meu celular cantante, o quanto esta pergunta, simples, curta e direta, revela sobre a maneira como a garotada consome música no mundo atual.

Na postagem anterior, falava da minha mania de ouvir os discos inteiros, a pretexto de comentar a vitória do grupo Pink Floyd sobre a EMI, que foi impedida pela justiça de fatiar o célebre LP "The Dark Side of the Moon". A pergunta de Wagner tem tudo a ver com isso. É a indagação típica de quem se acostumou a classificar em gêneros estanques - mas comercialmente eficientes, segundo supõem os gerentes de marketing - aquela coisa maior, anterior ao produto disco ou à faixa de MP3, que é a música. A música boa e ponto final. Ao esfacelar o comércio musical em faixas estanques, a indústria da área (ou o que restou dela, o que só mostra que a danada continua errando), matou não só o conceito consagrado de álbum, mas também reuniu os cadáveres em um negócio semimorto chamado "gênero". Já reparou na quantidade de discos "ao vivo" que estão à venda na rede de lojas Americanas?

Por causa disso, parece que hoje em dia ninguém mais gosta de Caetano Veloso - gosta de MPB. Ninguém mais ouve Michael Jackson - escuta flash back. Ninguém mais curte a Legião Urbana - consome "rock nacional". E por aí vai, numa norma que ignora o lado rock de Caetano, ou o lado, vá-lá, MPB de Cássia Eller, ou a contribuição de Michael Jackson para a formatação do pop atual (aqui, sim, citado, visto e ouvido como um gênero pelo que contém de particular em relação ao jazz, por exemplo). Enfim, a classificação genérica e didática até que existe e se justifica, mas o nível de categoria redutor em que ela foi convertida pelo mercado do disco, o pobre e burro mercado do disco atual, é atentatório à dignidade da música como forma mínima de arte.

Quer ver uma coisa? Naquela própria enquete feita pelo G1 com artistas, em que se pede que eles indiquem álbuns que devem ser ouvidos sempre na íntegra, há um sinal dessa compartimentação do mercado musical. Repare que a "roqueira" Pitty sugere somente discos dessa vertente, enquanto Bruno Medina, um Hermano mais próximo à música brasileira clássica, sugere somente álbuns "de MPB". Como eu não sou ninguém e, sendo assim, não corro o menor risco de ser classificado e embutido nos escaninhos de algum gênero musical, vou preparar minha própria lista de discos que devem ser ouvidos na íntegra, sem discriminar estilos. Só pra protestar, mesmo que ninguém note. De maneira que vem aí a maior mistureba. Aguardem a lista na próxima postagem.

Tocar tudo


Roberto Carlos não veste marrom, o personagem de Jack Nicholson no filme "Melhor é Impossível" não pisa entre as pedras da calçada e o milionário e cineasta Howard Hughes só abria porta de banheiro usando um lenço para não se contaminar com as bactérias, como relembra Martin Scorsese em "O Aviador". Estes são casos extremos, mas de uma maneira ou de outra todos temos nossos pequenos "tocs" secretos - os tão falados "transtornos obsessivo-compulsivos" que, levados às últimas consequências, tornam a vida um inferno. Eu sou humano e tenho vários, mas o que me interessa aqui é apenas um deles: minha mania de ouvir discos da primeira à última faixa. Como é bom - e como é difícil abrir mão dessa jornada sonora completa.

Como o meu caso não é clínico - ainda bem -, eu naturalmente interrompo a audição do meu Zé Ramalho preferido quando chega a hora de um compromisso, ou quando as crianças me chamam, ou quando Rejane convoca. Sem maiores problemas, afinal eu não sou Roberto Carlos nem com toc nem sem. Mas que o bom mesmo é ouvir o disco inteiro, faixa após faixa, sem nem sequer uma pausinha pro xixi, ah, disso não há dúvidas. Por isso mesmo, e sem querer soar ultrapassado, minha cisma com esses novos tempos em que a música virou um peixe que se come em postas, à venda na internet, ou disponível de graça - mas fragmentada como um cadáver de Chico Picadinho - no E-mule, ou ainda compactada (depois de desfiada em faixas independentes) no CD de MP3.

Reafirmo: não sou Roberto Carlos com toc nem sem, por isso tenho sim CDs de MP3 daqueles que misturam as já bagunçadas coletêneas numa única mídia infinita, também baixo minhas músicas (já baixei mais, a amor passou e o computador também já foi melhor), mas o fato concreto é que tudo isso é uma adaptação difícil. Porque do que continuo gostando mesmo, é do velho (!) CD comercial, normal, da gravadora, que se compra na loja, tanto quanto se fazia com o velho long play do tempo da Modinha. Gosto da coerência do projeto, da harmonia do conjunto, da intercomunicação interna das faixas, de ouvir em música organizada a idéia que o cantor e o compositor depositaram naquilo tudo. Em suma, gosto de música em formato superado, embora admita os novos - mas é como se os novos fossem imperfeitos perto da experiência acumulada dos velhos. E são mesmo, ora!

Essa conversa toda está aqui porque acabo de ver no G1, aquele site de notícias com que a Globo tenta ocupar mais um espaço midiático nativo, uma notícia animadora e uma idéia divertida construída sobre ela. Já-já coloco o link pra você conferir in loco, caso também tenha essa minha mania de ouvir discos inteiros e não servidos em pedacinhos como bolo de aniversário em festa da repartição. A notícia é de que o grupo Pink Floyd foi à justiça contra a venda, pela multinacional da música EMI, de faixas separadas do célebre album "The Dark Side of the Moon". Todo mundo sabe que a venda esfacelada de faixas deste - ou de qualquer outro disco do Pink Floyd - é uma tremenda interferência na concepção da própria música do grupo. Só pra efeito de compração, imagine uma pessoa que passa horas ouvindo faixas soltas de vários discos do Pink Floyd mesmo: já é um negócio indigesto como comer uma pizza grande em que cada um dos oito pedaços é de um sabor diferente. Agora, imagine misturar faixas avulsas do Pink Floyd com coisas de outros músicos que não têm muita afinidade com o som da banda.

Até vale, como uma coletânea eventual - ou num momento relaxado em que a música é apenas parte do que se passa, como numa festa, por exemplo. Mas, no geral, é inegável que a venda de discos em pedaços vai afastar o ouvinte da essência da música daquela banda específica. Não chega nem ao nível do "compacto" de antigamente que, ao menos, podia oferecer uma amostra do que era o LP completo, já que trazia embutido um mínimo de conceito - a não ser que contivesse música imprestável mesmo, mas o que não presta independe de mídia e será ruim em qualquer formado, esse já é outro papo. Voltando ao caso do PF, a notícia no G1 é de que a banda venceu a causa. Felizmente. E aí, como nada se perde no reino da informação de entretenimento do mundo da internet, o G1 aproveita para pedir a um grupo de artistas uma lista com álbuns que eles consideram que devam ser ouvidos assim, na íntegra, faixa após faixa, sem essa de venda avulsa como pizza fatiada.

Leia aqui a notícia e veja as listas. Na próxima postagem, mais um pouquinho sobre o assunto. Aguardem.

domingo, 11 de abril de 2010

Influências musicais


É impressionante a soma de fatores, influências, sugestões, elementos aparentemente dispersos que se juntam numa única mente para fazer de um ser humano um artífice na sua atividade. Penso nisso enquanto assisto, pela segunda vez, ao documentário "No Direction Home", que Martin Scorsese realizou para explicar a música, a filosofia pop, a orgem folk, o perfil mutante e genial de mr. Robert Zimmerman, o Bob Dylan do mundo rock. O filme sai rastreando e exibindo um sem número de músicos que antecederam Dylan e o municiaram das maneiras mais diversas, com o próprio músico explicando como mesmo artistas que na época não eram bem assimilados interessavam à sua pessoa, independente do que achavam deles.

Num outro programa documental sobre música, a série Jazz que o GNT exibiu há um tempo e que existe disponível numa caixa de DVDs, Bird também faz um comentário semelhante - ou pessoas que falam sobre ele, não lembro bem. Lembro da essência: o comentário é de que Charles Parker gostava de ouvir, quando não estava tocando, bebendo ou exercendo sua lamentável dependência das drogas, umas músicas que os amigos e contemporâneos não julgavam mais que meramente folclóricas. Coisas desprezíveis, mas não para o pássaro de ouvidos apurados Charles Bird. E sabe-se lá até que ponto essas curiodades musicais não fizeram diferença na hora em que ele se meteu a depurar o bebop do momento, revolucionando a música instrumental de então?

Gênios da música deste pobre planeta que tem girado em falso neste 2010 de tantas tragédias, Dylan ou Parker parecem dizer, nesses filmes, que o segredo, se houver, deve ser ignorar o padrão das opiniões estabelecidas e esclarecidas que ditam suas réguas estéticas por aí. De maneira que a maior dificuldade, para quem apenas ouve, deleita-se com a música, é soltar as pedras da mão e apreciar sem má-vontade legitimada pelos manuais do bom gosto. Como o sujeito - entre muitos da indústria do disco - que se encantou com Bob Dylan nos primeiros raios de neon dos anos 60 e ouviu nele a novidade musical fecunda. Alguém fala em assistir a Dylan em Nova York e perceber naquele moço no palco esfumçado a presença marcante de alguém decicado a criar algo com a concentração que só os verdadeiros artistas tem.

*Mais Bob Dylan na barra de amostras de vídeos do YouTube, abaixo e ao lado.

Postagem em destaque

O último cajueiro de Alex Nascimento

Começar o ano lendo um Alex Nascimento, justamente chamado "Um beijo e tchau". Isso é bom; isso é ruim? Isso é o que é - e tcha...