quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Ariano e o Google




Se todo conservador fosse como Ariano Suassuna, a gente se divertia muito mais - e ficava um bocado mais inteligente, o que nunca é demais. Vejam vocês a história que ele conta na revista "Caros Amigos" deste mês sobre a relação que tem com um negócio que já foi um bicho de sete cabeças, coisa do futuro, mas hoje é matéria comum do tipo em que se tropeça em qualquer canto de rua, chamado computador (e mais especificadamente, Google):

"Eu vou lá aceitar sugestão de computador? Meu nome completo é Ariano Villar Suassuna. Botou Ariano e o computador aceitou. Foi colocar Villar, ele recusou e sugeriu vilão. Aí ela foi colocar Suassuna, ele recusou e, não sei se por causa do número de S, sugeriu assassino. Meu nome no computador é Ariano Vilão Assassino. E dizem que sou inimigo dele. Ele é que é meu inimigo."

Sei não, mas desconfio de que, com esse senso de humor e talento para compor uma boa pilhéria, Ariano na verdade seja um assíduo frequentador do Google e quejandos, talvez tenha até um punhado de fakes para quando deseja  dar umas incertas no Facebook, outros pra azucrinar a pasmaceira do twiter e por aí vai. Depois que o homem se for - tomara que demore muito - é capaz de descobrirem na casa dele lá pras bandas de Casa Amarela, em Recife, um cômodo secreto onde Ariano ria do mundo e da sua fama de avesso à tecnologia; uma sala equipada com sei-quantos terminais, scaner, HD e o diabo a quatro, numa festa armorial-informática de que seus fãs jamais desconfiariam. Que ia ser divertido, ia.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Policial de transição


"Cop Land" (James Mangold, 1997, disponível em DVD) é um daqueles filmes que, sendo pequenos e despretensiosos, grudam na sua memória com o poder sintético de uma novela literária, uma crônica certeira ou um capítulo de livro especialmente marcante. Não fez grande sucesso, mas tem lugar garantido na memória dos tempos do cinema em VHS que marcou as décadas de 80 e 90 pra muita gente. Como gênero, fica entre o policial e o drama - mais o segundo do que o primeiro. Como narrativa, é quase uma referência paralela ao Quentin Tarantino que renovava o gênero com Pulp Ficcion, mas aqui sem qualquer adereço de montagem; sustentado apenas na força dos conflitos que lhe servem de suporte. Como espetáculo, é nada. Como dramaturgia, é do tipo que convence no início, pede sua paciência no meio e lhe recompensa ao final. Um filme sem firulas para quem gosta de cinema sem rodeios. 

Pense num elenco que daria um daqueles filmes caros, de propaganda exagerada, bilheteria espetacular e tratamento idem. Pois "Cop Land", cujo título se refere a uma comunidade de policiais em New Jersey, EUA, é o oposto de tudo isso: um anticlímax total para quem cai na isca grandiloquente do cinema tipo arrasa-quarteirão. Tem Robert de Niro, Harvey Keitel, Ray Liotta e o velho Balboa, ele mesmo, Sylvester Stallone, aqui antecipando em décadas o Rock que faria ao retomar a série de filmes do lutador alguns poucos anos atrás. Acreditei no xerife de Stallone neste "Cop Land" com a mesma falta de desconfiança que lhe destinei quando, de calças curtas, sofri com ele no "Rock II - A Revanche", que mesmo fora de ordem foi a primeira vez em que o encontrei no cinema. Podem puxar a ficha habitual que o qualifica como o canastrão-mor da capitania cinematográfica norte-americana que eu não mudo de opinião. É de reverente dignidade a decadência que ele apresenta no drama policial agora em questão. 

E desta vez não é com a soberba do adversário de luvas  Apolo Creed que ele tem que se ver, mas com uma confrafia de policiais sutilmente corruptos que lhe serve de vizinhança e apoio psicológico (o homem é traumatizado por ter perdido a audição e por isso ser impedido de virar um tira "de verdade"). Não se preocupe que no desfecho não há a menor chance de Stallone se tornar um Rambo nas selvas urbanas que se projetam para além de Manhatan, mas dificilmente você deixará de notar no tiroteio final de "Cop Land" um signo reprocessado daquelas sequencias míticas dos westerns mais enraizados. 

Quer dizer: este filme que começa como um policial feito dentro da convenção e evolui para um drama de feridas psicológicas vai desembocar numa baita cena clássica que reproduz em ambiente suburbano o enfrantento típico do mais americanos dos gêneros, o faroeste de casas de madeira e ruas poeirentas. No que "Cop Land" remete imediatamente à dilaceração grupal que marca "Cães de Aluguel" (1992), cartão de apresentação do Tarantino em ebulição mais ou menos no mesmo tempo e lugar. De maneira que, ajustado nos desencontros da linha do tempo (não parece, mas" Cop Land" foi lançado três anos após a renovação de  "Pulp Fiction", de 1994), este filme é como um rito de passagem atrasado entre a violência dramática da turma de Martin Scorsese e a aventura cult e estilizada da geração Tarantino. 

Feriado na feira



A hamaca é de Poti, mas a dica de hoje é de coloração candanga: trata da tradicional, mas agora returbinada, Feira da Torre no centrão da capital de Jotinha. O que era uma espécie de mercadinho de lembranças de viagem para quem vinha ocasionalmente a Brasília foi ganhando fôlego e mudando suas feições. Uma mudança que foi ficando mais e mais evidente após a transferência da feirinha para as novas barracas ao fundo da Torre de Tevê. O resultado é que agora a feira pode muito bem reivindicar a condição de espaço de passeio de quem convive com BSB Citi por muito mais do que uma viagem cívico-política de fim de semana ou uma convenção partidária. 

Sem rodeios: a Feira da Torre é um programão para quem quer respirar os ares do centro de Brasília - até porque a atmosfera daqui se renova quando o ar quente da seca dá lugar ao ar úmido do verão -, para quem quer provar um sabor regional acondicionado em barraquinhas - que vão da tapioca à cocada baiana -; assim como para quem quer nada mais do que se divertir com a criançada empinando uma pipa. Dá até pra comprar uma lembrancinha da capital, viu?

O que é que feirinha tem? Tem acarajé, tem sofá sob medida, tem artesato em metal ou pano, tem o reduto raggae que é uma de suas marcas principais, tem camiseta da Legião Urbana, tem cheirinho pro banheiro, tem o escambau. Tudo isso num pequeno planalto à parte na região central da cidade, com o céu característico da cidade a um toque da mão e o chão vermelho dos trechos não pavimentados também prontinhos para empastelar seu calçado. Se chover - e chove nesta época, é batata e é uma benção - corre-se o risco de sair da feira com o espírito satisfeito e a roupa encharcada: mas até esses incovenientes de feira ao ar livre (na seca, é o excesso de sol quem ataca) fazem parte do passeio, obrigando o brasiliense natural ou artificial a sair do circuito Parkshopping-Pátio-Terraço-Iguatemi-e-Quejandos.

A Feira da Torre tem o poder de fazer você esquecer que está numa cidade demarcada pelo trinômio política-burocracia-alto consumo. Insere plantas de verdade no chão de Lúcio Costa, despeja cores no preto-e-branco do calendário da cidade, toca uma musiquinha peruana para lhe lembrar, para além do seu bom gosto dirigido, que você também é apenas um rapaz latino-americano, man. E ainda oferece, embora por precinhos cada vez menos camaradas, uma fileira de objetos para você sacramentar suas ligações fetichistas com o lugar que habita, composto por um cerrado que está sempre em volta e que nem sempre você é capaz de ver.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Contagem regressiva



O fim do ano está chegando e com ele o nobre janeirão que mais uma vez vai levar a gente pra Natal, a cidade. Essa legenda é só pra lembrar que desde já estão reservados dois lugares - um na parede e outro na estante - para os objetos recordatícios que, de uns anos para cá, foram acrescentados à bagagem de retorno. Na parede, tá guardado o canto onde vai se infiltrar a quarta placa da série que a gente passou a colecionar à guisa de fetiche saudosista: cada vez que piso nos doces tabuleiros litorâneos de Poti, trago um. Assim é bom porque dá até pra contar o número de viagens só de olhar a parede do escritório caseiro. 

O outro souvenir que bem se tornando obrigatório é mais um livro de fotografias do poti-equatoriano Fernando Chiriboga: já temos aquele do sertão e da Natal noturna. Desta vez, quem sabe não vem o das praias? Se bem que deu no Facebook, por artes do repórter Sandro Fortunato, que Canindé Soares também está lançando um portfólio natalense livresco para quem cultiva as paisagens campestres ou urbandas da capital de Cascudo. 

Este post, além de servir ligeiramente como dica de presente de Natal, a festa, também é, na sua aparente inutilidade, uma forma de dizer que quando chega o verão vem esse desassossego bom que instala a contagem regressiva rumo às férias. E desta vez elas devem ser ainda mais especiais, pois que o ramo por acaso brasiliense da Família Bagunçada agora vai se hospedar junto ao tronco principal, bem ali no Maria Isabel Pitimbu Resort, que só aceita reservas de gente muito diferenciada - e oferece um bônus quase nunca visto na rede hoteleira convencional: carinho de vó pra Cecília e Bernardo. E aconchego certo pro resto do povo.

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