segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Playlist da Hamaca

Verão, férias, viagens significam, tantas vezes, músicas. Um repertório específico que funciona como um calendário sentimental. Uma memória afetiva que remete a idades, fases, interesses, etapas, desafios, mudanças. O playlist abaixo, que pretende ser o primeiro de uma série aqui na Hamaca, junta um  conjunto de canções que se enquadram neste painel - um horizonte que se abre nestes inícios de novembro, esses preâmbulos de dezembros e anúncios de janeiros, quando os ares das festas de fim de ano vão enchendo a atmosfera de uma sonoridade nem sempre propriamente nova, mas renovada até quando lembra décadas passadas. Então, pra começar, um hino pacifista bem a propósito desses dias pós-atentados de Paris, com o velho Paul propondo um cachimbo da paz que nunca perde a importância. Depois, um hit de um verão dos primeiros anos da década de 80, com a energia de Elba Ramalho. Daquela mesma época vem uma balada de Vinícius Cantuária como nem sempre se ouve mais no rádio FM. Depois dele, outra balada, com Adele e a lembrança boa de umas férias mais recentes, sonorizada por aquele disco/DVD que todo mundo ouviu até enjoar - e não enjoou. Fecha a lista outra balada, essa de extração popular, do finalzinho da década de 70, que seria resgatada por Zeca Baleiro num desses seus divertidos e sensíveis discos tipo Lado Z - a "Chuva" de um esquecido Gilson.


1.PIPES OF PEACE - PAUL MACCARTNEY


 2.BATE CORAÇÃO - ELBA RAMALHO


3.COISA LINDA - VINÍCIUS CANTUÁRIA 




4.DON´T YOU REMEMBER - ADELE
 


5.CHUVA - GILSON


domingo, 15 de novembro de 2015

O velho, o livro e a política



O velho Getúlio, sempre ele. Livro vai, livro vem, o Leitor Bagunçado se vê às voltas com a figura gorducha, complexa, contraditória e - talvez por tudo isso junto - mais característica não só da política como da História do Brasil. Na juventude primeira, era o Getúlio odiado e odioso que massacrou com frieza a esquerda dos anos 30 - aquela que, sabe-se lá como, achava que o país estava prontinho pra uma revolução comunista. Do painel geral de auto-enganos sobressai mesmo é a violência pessoal e específica, portanto de caráter desesperadamente humano, contra Olga Benário. E quem não chorou lendo as últimas páginas do livro do insuspeito Fernando Moraes que atire o primeiro boneco inflável de Lula. 

A bibliografia dos 20 anos - Memórias do Cárcere; O Cavaleiro da Esperança e similares - reforçava essa visão de seu Getúlio. Mas o tempo passa e a figura Getulina vai adquirindo, junto com as vivências e leituras, contornos mais complexos. Percebe-se a figura de um estadista mínimo (o que no Brasil é sempre algo a destacar) diante um paredão de atrasos de cores variadas que faz com que a gente veja o quanto aquela esquerda liderada por Prestes lia errado o desenho dos seus reais adversários. Se ele próprio, Prestes, reviu isso, quem somos nós pra não relativizar. Espetamos então aquele alfinete revisionista no boneco inflado do ex-ditador. Pois agora, depois de tudo, vem Lira Neto com sua série biográfica em cima do muro no melhor sentido da expressão pra balançar de novo o edifício do getulismo. 

No primeiro volume ficou intacta minha admiração pelo gaúcho quem marcou o Brasil, arrancando com a revolução de 30 as bases solapadas de um fazendão que talvez nem merecesse o nome de país. Mas agora, nas barbas do Estado Novo para onde nos leva o volume dois, tá difícil: não é volubilidade de opinião, é que Lira é bem danado em mostrar como, aos pouquinhos, uma certa de mistura de política pequena com bajulação gigantesca e falta de parâmetros legais que garantam o que quer que seja é capaz de, ato após ato, pequena violência aqui com mais outra ali, construir um perfeito sistema opressor. Eu pelo menos me acostumei a ver o Estado Novo como algo muito bem engrendrado, esquematizado, arquitetado de maneira a cobrir toda a atividade política do país - como algo feito assim numa megaconspiração de reunião madrugada a dentro a portas fechadas. E, para além do ato espúrio de um homem só escrever uma "constituição", não foi bem assim. Foi aos poucos, como na vida. 

Quando se viu, a empanada do monstro cobria a tudo e a todos, sufocando, futuramente, o próprio Getúlio que, no acumulado de feitos, desfeitos e não feitos, encurralou-se por meio dos inimigos que a política sempre planta. A política, esse quebra-cabeças de peças que ora de organizam de um jeito, ora de outro (as nuvens de Tancredo,lembram?). São variáveis demais e quando se puxa a corda excessivamente pra um lado pode aguardar que o empuxo contrário virá na certa. Biografias feitas no capricho são ótimas para mostrar esse fenômeno recorrente e, infelizmente no nosso caso, tão repetitivos.

sábado, 14 de novembro de 2015

#começar de novo



Henfil desenhava rápido porque a hemofilia o obrigava. Daí os traços que legou serem sempre ágeis qual desenho animado, o Zeferino e a Graúna quase voando no papel das charges e tiras. Não sou Henfil mas me vejo em situação similar: uma crise inesperada do que uns dizem ser hérnia de disco e outros apenas o desgaste natural da coluna após quase 50 anos de uso me impede de fazer, por longo tempo, atividades que estavam entre as minhas preferidas: ler e escrever. 

Ler porque sem querer a cabeça cai, o pescoço se dobra e a hérnia ou seja lá que nome tenha é contraída, causando dor. Escrever porque o computador, com teclado e monitor em posições quase opostas e ângulo assassino para a  minha pobre cervical representa tudo isso elevado ao cubo: por ora, é assim; usou, doeu. O preço é alto. Mas alguma coisa para além da coluna, da dor, da crise e da inflexão que ela provoca necessariamente nos meus hábitos e na minha visão do que é viver me traz de volta ao blog. Tenho necessidade dele para organizar minhas próprias ideias nesta transição que noto estar vivendo faltando menos de dois meses para completar meio século de vida. Se isso representar algum ganho também pra você aí do outro lado, por que não dividir? Mas o faria mesmo que estivesse apenas falando sozinho. 

A diferença agora é que os posts devem ficar mais curtos, ágeis, incompletos mas autênticos, compensando com a energia da rapidez a profundidade que a idade me obriga a deixar pra trás. Bem-vindos de volta e a gente vai se falando, em conversas mais ligeiras como o traço necessário de Henfil - sem maiores comparações, claro - mas também, espero, mais frequentes. Aqui a hastag é tipo #começardenovo.

Postagem em destaque

O último cajueiro de Alex Nascimento

Começar o ano lendo um Alex Nascimento, justamente chamado "Um beijo e tchau". Isso é bom; isso é ruim? Isso é o que é - e tcha...