domingo, 22 de maio de 2016

Meu problema com Dostoiévski...




... se repetiu com Yukio Mishima. Tem tratamento?




Preciso admitir (não digo confessar porque acho, veja bem, acho, que não chega a ser crime, embora haja controvérsia): não consegui digerir muito bem o mais clássico dos clássicos. Não engoli até hoje “Crime e Castigo”. Serei castigado? Se for, serei como um criminoso reincidente, porque também não desceu muito bem pela minha goela outro texto consagrado que só agora fui ler – o de Yukio Mishima  do “Mar da Fertilidade”. 

Se, ao contrário do resto da humanidade, eu fui o único a não apreciar “Crime e Castigo” imagino que devo ser punido de alguma forma – nem que seja por justiça ao nome do livro. Qual é mesmo o castigo de Raskólnikov? A cadeia? Só? Se for, não me ocorre, é bem pouco pros padrões literários atuais, se a gente lembrar das trilogias fantásticas que invadem livrarias.

Ok, então – vou preso e terei mais tempo do que José Dirceu pra reler “Crime e Castigo” até conseguir me sintonizar com o livro. Se fosse só isso, tudo bem. O problema é bem mais grave: ao não conseguir deglutir a contento o “Mar da Fertilidade” do escritor japonês mais cultuado do planeta é que eu me exponho a castigo bem mais, digamos, definitivo.

Tipo: haraquiri, pra fazer justiça à honra japonesa ultrajada pelo fato de eu não haver curtido seu escritor mais celebrado. Antes é preciso dizer que pelo menos eu me esforcei – disso ninguém deve duvidar; basta lembrar que “Mar da Fertilidade” não é exatamente um livro só, e nem mesmo uma trilogia. É logo uma tetralogia, pronto. O cara tem quatro, qua-tro chances de gostar do texto, da atmosfera, dos diálogos, do sentimento de mundo com que Mishima imprega cada uma das páginas dos, repito, qua-tro volumes.
 
Enfim, se o leitor não se sentiu bem com as descrições que mais parecem grafismos de arte oriental ou não captou a importância da tradição no contexto da história japonesa ferrou-se – é providenciar o punhal e aquele tapetinho que o candidato a haraquiri precisa ter. Sem esquecer de que, além do golpe que abre a barriga é preciso também rasgar a garganta pra garantir que a morte seja certa (isso eu aprendi lendo Mishima; que por sinal matou-se sob os moldes da tradição assim que terminou de escrever a trilogia; mas minha aversão nada tem a ver com isso). 



Ok, sendo uma longa tetralogia – “Neve de Primavera” lhe pega um pouco pela curiosidade; “Cavalo Selvagem” meio que dá uma cimentada no conteúdo dramático; “Templo da Aurora” tem uns respingos da II Guerra; e “A Queda do Anjo” espalha um sugestivo cheiro de despedida da vida, do Japão, de tudo – alguns ganchos fazem você passar de um livro ao outro.

Ok, não é que seja ruim – um cara que insiste em começar frases com um “ok” e que não apreciou “Crime e Castigo” não tem a menor categoria para julgar livro algum, admito; ou, querendo, confesso. O caso é que não “bateu”, vamos dizer assim. Pelo menos não a ponto de justificar uma tetralogia. Não sei por que, mas me dava uma saudade do José de Alencar de “As Minas de Prata”. 

Em tempo: sou meio fanático por Machado de Assis – nada de confundir as coisas ou tirar conclusões precipitadas.

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