quinta-feira, 9 de junho de 2016

Back to Auster



Reencontrar Paul Auster com este Leviatã foi, primeiramente, como religar os pontos com o Phillip Roth de Pastoral Americana. Só que no lugar da maluquete pop-terrorista do livro de Roth, temos aqui um par de escritores do tipo ponderado/desiludido, focalizados no quadro geral da loucura norte-americana que resulta em bombas, tiros e assassinatos (um tema recorrente que cobre tanto Kennedy quanto o 11 de setembro). Atentados como slogans desesperados em faixas abertas no Central Park.  América, terra de oportunidade para todos - incluindo os fanáticos. Numa primeira impressão era bem menos próximo do Auster de que me lembrava, aquele das subjetividades de O conto de Natal de Auggie Wren, o miolo do relato do que virou o roteiro e o filme Cortina de Fumaça (que, milagre dos milagres, acabo de encontrar em DVD numa feira de trocas num aldeia nas matas de Goiás, mas esse é outro papo). Em termos formais, há sim, a mesma identidade - neste escrito como naquele, ou naqueles, Paul Auster tem o costume de abrir grandes valas de não-acontecimentos, dúvidas, terrenos de sombras, parênteses do desconhecido, histórias perdidas que mais tarde, só bem mais tarde, os personagens - e nós, leitores, junto com eles - vamos recuperar. Soa divertido porque você acaba tendo a impressão de estar remontando os romances junto não só com os personagens, mas com o próprio autor. Pensando bem, as cortinas de fumaça continuam lá, as longas conversas, as especulações sobre o que este incômodo (mal) estar sobre o mundo sugere, inspira, cogita e nunca define. Eis Paul Auster, eis uma retomada.

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